Certa vez, o rabi Akiva partiu para uma longa jornada, levando consigo três coisas: um burro, um galo e uma vela.
Levou o burro para que pudesse servir de montaria e para que carregasse seus pacotes. Levou o galo para que o acordasse ao amanhecer. A vela serviria para iluminar, para que pudesse estudar a Torá à noite.
Rabi Akiva cavalgou até cair o anoitecer. Entrou então numa cidade e procurou uma hospedaria para passar a noite, mas não encontrou nenhuma.
Batendo na porta de uma casa, perguntou: “Vocês têm lugar para receber um inquilino nesta noite?”
“Não!” – as pessoas respondiam – “Vá em frente!”
Rabi Akiva tentou uma casa após a outra, mas ninguém concordou em deixá-lo permanecer ali durante a noite. Ele estava no meio da cidade, perguntando-se o que fazer. Estava escuro e frio. Onde passaria a noite? No entanto, ele não se desesperou. Disse a si mesmo: “Tudo o que Deus faz é para o bem!”
Ele não desejava ficar numa cidade cujos habitantes eram tão perversos e hostis, portanto decidiu dormir a céu aberto num campo próximo.
Acomodou-se debaixo de uma árvore, acendeu sua vela, alimentou seu burro e seu galo – e então mergulhou profundamente no estudo da Torá. Estava tão concentrado que se esqueceu de onde estava – a céu aberto, sozinho, no meio da noite.
De repente, um urro forte quebrou o silêncio. Rabi Akiva viu um enorme leão atacando seu burro. Mais um minuto, e não havia mais burro, pois o leão o matara.
Mal se recuperou do terrível choque quando um gato selvagem saltou sobre seu galo de outra direção. Rabi Akiva estava prestes a ir salvá-lo, quando uma rajada de vento apagou a vela.
Estava escuro. Agora ele estava realmente desamparado. Não possuía mais burro, nem galo, nem vela. Mas não se desencorajou. Ao contrário, disse: “Tudo o que Deus faz é para o bem!”
Ainda parado ali no escuro, viu uma luz de longe. Fogo! A cidade na qual ele passaria a noite estava em chamas! Suas casas de madeira e tetos de palha seriam destruídas em minutos!
Rabi Akiva logo ouviu vozes. Um bando de ladrões havia atacado a cidade naquela noite, capturado todos os seus habitantes e ateado fogo em suas casas. Agora levavam seus prisioneiros pelo campo. Graças à escuridão, não perceberam o rabi Akiva postado ao lado da árvore.
De repente, ele entendeu tudo: por que o leão devorou o burro, por que o gato selvagem matou seu gato e por que o vento apagou a vela. Se o burro zurrasse ou o gato cacarejasse de medo, os ladrões os ouviriam; se vissem a vela, capturariam o rabi Akiva também.
Afinal, tudo acabou para o bem!
Rabi Akiva agradeceu a Deus por tê-lo salvado e continuou seu caminho.
(Tratado Berachot 60b)