Uma vovozinhaentra noônibuslotadoedescobrequenãotem o troco adequado para a passagem. Omotoristatentaser firmecom ela, maselacolocaa mãodelicadamentesobre o peitoemurmura: - Se você soubesse o que eutenho, você seria mais legal comigo. Ele se compadecee a deixa viajarde graça. A vovozinha avança pelo ônibus tentando abrir caminhopelo corredorlotado,masas pessoas não cedem passagem.Elafinalmentecolocaa mãodelicadamentesobre o peitoe murmura: - Se vocêssoubessem o que eutenho, vocês seriam mais legais comigo. A multidão se abre para deixá-la passar, como o Mar Vermelho. Finalmente, elachega aofundo do ônibus,onde nãoexistembancos livres,eolhasignificativamente paravárias pessoas, mas nenhuma delas se toca eoferece a ela seu assento.Mais uma vez,elacolocaa mãodelicadamentesobre opeitoemurmura: - Se vocêssoubessem o que eutenho, vocês seriam mais legais comigo. Várias pessoas se levantam einsistem para queelase sentee viaje confortavelmente. Umamulherque estava observandotudoissose inclinoue perguntou: - Eusei queissonão é daminha conta,maso que équevocêtem, afinal? A vovozinhasorriu e respondeu:Chutzpah.
Meu corpo está na terra e minha cabeça nas estrelas. Não tenho medo do conhecido, pois já o conheço. E o desconhecido também não temo, pois quero conhecê-lo. Falas da personagem Maude, em Ensina-me a Viver.
Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Fernando Pessoa, emAutobiografia sem Factos". (Assírio & Alvim, Lisboa, 2006, p. 118), via Arquivo Pessoa.