sábado, 29 de maio de 2021

O cartão é mais importante do que as flores

A primeira frase realmente boa e eficaz que escrevi na vida não foi para um anúncio, foi para um cartão que acompanhava umas flores que mandei para uma moça.

Eu estava começando na publicidade e ela, no jornalismo. Ela era linda, inteligente e talentosa, mas tinha um grande defeito: um namorado italiano, bonitão, bem vestido, 18 anos mais velho que eu, que desfilava pelas ruas de São Paulo com uma Ferrari Dino vermelha.

Uma competição entre mim e ele era mais ou menos como uma disputa do Corinthians sub-20 com a Juventus de Turim, do Cristiano Ronaldo.

Mas, como a moça tinha se encantado com o fato de eu ter ganhado um Leão de Bronze no Festival do Cinema Publicitário de Veneza, com o primeiro comercial que escrevi na vida, resolvi tentar.

Comprei um maço de flores do campo e mandei para ela acompanhado de um cartão que dizia: “As próximas, a gente rouba juntos”. Ela adorou o cartão, e o impossível aconteceu: tomei a namorada do italiano bonitão.

Anos depois, já publicitário conhecido, fiz uma palestra com o tema “o cartão é mais importante do que as flores”, em que eu dizia que o negócio da persuasão na publicidade era igualzinho à vida real.

Dois rapazes podiam comprar as mesmas flores, para a mesma moça, na mesma floricultura; mas aquele que escrevesse o melhor cartão agradaria mais.

Desde menino, sempre gostei de frases e, certamente por isso, acabei virando publicitário, uma atividade em que frases inesquecíveis são fundamentais. Gosto de todos os tipos de frases, desde que bem pensadas.

Podem ser afetadas como as de Oscar Wilde: “Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando”.

Verdadeiras como as de Nélson Rodrigues: “A liberdade é mais importante que o pão”.

Poéticas como as de Mário Quintana: “A grande tristeza dos rios é não poderem levar a tua imagem”.

Autocríticas como as de Tim Maia: “Comecei uma dieta, cortei a bebida e as comidas pesadas e, em 14 dias, perdi duas semanas”.

Pretensiosas como as de Salvador Dalí: “Às vezes penso que um dia morrerei por uma overdose de satisfação”.

Sinceras como as de Tom Jobim: “Viver no Rio é uma merda, mas é bom. Viver em Nova York é bom, mas é uma merda”.

Precisas como as de Millôr Fernandes: “Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”.

Autoanalíticas como as de Raul Seixas: “A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal”.

Cínicas como as do príncipe Philip: “Quando você encontrar um homem abrindo a porta do carro para sua esposa, pode ter certeza de que ou o carro é novo, ou a esposa é nova”.

Políticas e comportamentais como as de Winston Churchill: “A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra, a pessoa só pode ser morta uma vez, mas, na política, diversas vezes”; “se Hitler invadisse o inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns”; “não há mal nenhum em mudar de opinião, contanto que seja para melhor”; “estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem”.

Churchill foi, sem dúvida, o político que melhores frases disse e escreveu em todos os tempos. Tanto sobre a política quanto sobre a vida, coisas que, na verdade, são uma coisa só. Existem inúmeros livros com as frases dele

Quando, por acaso, sou atingido por mensagens de algum deles, coloco em prática uma das frases famosas de Groucho Marx: “Nunca me esqueço de um rosto, mas, no seu caso, ficarei feliz em abrir uma exceção”.

Washington Olivetto

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