sábado, 30 de julho de 2022

É tudo para o bem

Certa vez, o rabi Akiva partiu para uma longa jornada, levando consigo três coisas: um burro, um galo e uma vela.

Levou o burro para que pudesse servir de montaria e para que carregasse seus pacotes. Levou o galo para que o acordasse ao amanhecer. A vela serviria para iluminar, para que pudesse estudar a Torá à noite.

Rabi Akiva cavalgou até cair o anoitecer. Entrou então numa cidade e procurou uma hospedaria para passar a noite, mas não encontrou nenhuma.

Batendo na porta de uma casa, perguntou: “Vocês têm lugar para receber um inquilino nesta noite?”

“Não!” – as pessoas respondiam – “Vá em frente!”

Rabi Akiva tentou uma casa após a outra, mas ninguém concordou em deixá-lo permanecer ali durante a noite. Ele estava no meio da cidade, perguntando-se o que fazer. Estava escuro e frio. Onde passaria a noite? No entanto, ele não se desesperou. Disse a si mesmo: “Tudo o que Deus faz é para o bem!”

Ele não desejava ficar numa cidade cujos habitantes eram tão perversos e hostis, portanto decidiu dormir a céu aberto num campo próximo.

Acomodou-se debaixo de uma árvore, acendeu sua vela, alimentou seu burro e seu galo – e então mergulhou profundamente no estudo da Torá. Estava tão concentrado que se esqueceu de onde estava – a céu aberto, sozinho, no meio da noite.

De repente, um urro forte quebrou o silêncio. Rabi Akiva viu um enorme leão atacando seu burro. Mais um minuto, e não havia mais burro, pois o leão o matara.

Mal se recuperou do terrível choque quando um gato selvagem saltou sobre seu galo de outra direção. Rabi Akiva estava prestes a ir salvá-lo, quando uma rajada de vento apagou a vela.

Estava escuro. Agora ele estava realmente desamparado. Não possuía mais burro, nem galo, nem vela. Mas não se desencorajou. Ao contrário, disse: “Tudo o que Deus faz é para o bem!”

Ainda parado ali no escuro, viu uma luz de longe. Fogo! A cidade na qual ele passaria a noite estava em chamas! Suas casas de madeira e tetos de palha seriam destruídas em minutos!

Rabi Akiva logo ouviu vozes. Um bando de ladrões havia atacado a cidade naquela noite, capturado todos os seus habitantes e ateado fogo em suas casas. Agora levavam seus prisioneiros pelo campo. Graças à escuridão, não perceberam o rabi Akiva postado ao lado da árvore.

De repente, ele entendeu tudo: por que o leão devorou o burro, por que o gato selvagem matou seu gato e por que o vento apagou a vela. Se o burro zurrasse ou o gato cacarejasse de medo, os ladrões os ouviriam; se vissem a vela, capturariam o rabi Akiva também.

Afinal, tudo acabou para o bem!

Rabi Akiva agradeceu a Deus por tê-lo salvado e continuou seu caminho.

(Tratado Berachot 60b)

domingo, 29 de maio de 2022

Como discernir entre o certo e o errado?

É dito que conhecimento é luz e força. 

Onde há luz é possível discernir entre certo ou errado, escuro ou luminoso, inútil ou poderoso. 

Aqueles que entendem o que está errado, não se deixam influenciar por ações e pensamentos negativos. Aqueles que possuem conhecimento são sensíveis em relação aos atos e sentimentos dos outros. Pessoas assim têm o poder de transformar o errado em certo. Albert Einstein



domingo, 24 de abril de 2022

As "leis" de Roberto Campos e Guilherme Merquior

Era uma crespa noite de inverno londrino. 

Eu tinha convidado para um jantar na embaixada brasileira, ao fim dos anos 70, o grande filósofo liberal francês Raymond Aron e dois sociólogos radicados na Inglaterra, Ralf Dahendorf e Ernest Gellner, este último professor de José Guilherme Merquior, meu conselheiro de embaixada. Na curva do conhaque, quando filosofávamos sobre nominalismo, realismo e existencialismo, contei uma piada que Aron achou divertida. Era a definição de "realidade" dada por um irlandês, revoltado pela interrupção de suas libações alcoólicas à hora do fechamento dos "pubs". "A realidade é uma ilusão criada por uma aguda escassez de álcool", disse.

Quando partiram os hóspedes, resolvemos, Merquior e eu, em rodadas de uísque, testar duas coisas. Primeiro, a teoria irlandesa do realismo alcoólico. Segundo, nossa capacidade de recitarmos, de memória, aquilo que poderíamos chamar de "leis de comportamento sociopolítico" de variadas personagens e culturas. Alternávamos nas citações, que registrei num alfarrábio que outro dia desenterrei numa limpeza de arquivos. Ei-las:


A lei de Lênin: "É verdade que a liberdade é preciosa. Tão preciosa que é preciso racioná-la".

A lei de Stálin: "Uma única morte é uma tragédia; 1 milhão de mortes é uma estatística".

A lei de Krushev: "Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem construir pontes mesmo quando não há rios".

A lei de Henry Kissinger: "O ilegal é o que fazemos imediatamente. O inconstitucional é o que exige um pouco mais tempo".

A lei de Franklin Roosevelt: "Um conservador é um homem com duas excelentes pernas, que, contudo, nunca aprendeu a andar para a frente".

A lei de Lord Keynes: "A dificuldade não está nas idéias novas, mas em escapar das antigas".

A lei de Bernard Shaw: "Patriotismo é a convicção de que o país da gente é superior a todos os demais, simplesmente porque ali nascemos".

A lei de Hayek: "Num país onde o único empregador é o Estado, a oposição significa morte por inanição. O velho princípio de que quem não trabalha não come é substituído por um novo princípio: quem não obedece não come".

A lei de Mark Twain: "Um banqueiro é um tipo que nos empresta um guarda-chuva quando faz sol, e exige-o de volta quando começa a chover".

A lei de Lord Kelvin: "Grandes aumentos de custos -com questionável melhoria de desempenho- só podem ser tolerados em relação a cavalos e mulheres".

A lei de Charles De Gaulle: "As promessas só comprometem aqueles que as recebem".

A lei de John Randolph, constituinte na Convenção de Filadélfia: "O mais delicioso dos privilégios é gastar o dinheiro dos outros".

A lei de Getúlio Vargas: "Os ministérios se compõem de dois grupos. Um formado por gente incapaz, e outro por gente capaz de tudo".

A lei do governador Mario Cuomo, de Nova York: "Faz-se campanha em poesia e governa-se em prosa".

A lei de John Kenneth Galbraith: "A política não é a arte do possível. Ela consiste em escolher entre o desagradável e o desastroso".

A lei de Sócrates: "No tocante a celibato e casamento, é melhor não interferir, deixando que o homem escolha o que quiser. Em ambos os casos, ele se arrependerá".

No último uísque, Merquior me contou um chiste anônimo, que circulava em Londres: "A natureza deu ao homem um pênis e um cérebro, mas insuficiente sangue para fazê-los funcionar simultaneamente".

Ao confidenciar a Merquior que pretendia aposentar-me do Itamaraty para ingressar na política, lembrou-me ele a lei de Hubert Humphrey, vice-presidente dos Estados Unidos na administração Lyndon Jonhson, que dizia: "É verdade que há vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados".


Tendo em vista minhas ambições políticas, combinamos fabricar conjuntamente uma lei, que passaria à posteridade como a lei Campos/Merquior: "A política é a arte de fazer hoje os erros do amanhã, sem esquecer os erros de ontem".


Ao nos despedirmos, já mais sóbrios, lembrei-me de duas leis. 

A lei do King Murphy, que assim reza: "Não estão seguras a vida, a liberdade e a propriedade de ninguém enquanto a legislatura estiver em sessão"


E a lei do sábio Montesquieu, o inventor da teoria da separação de poderes: "O político deve sempre buscar a aprovação, porém jamais o aplauso".


Em minha vida política no Senado e na Câmara, procurei descumprir a lei de King Murphy e cumprir a lei de Montesquieu. Sem resultados brilhantes nem num caso nem no outro.

sábado, 26 de março de 2022

Quando dois elefantes brigam, é a grama que acaba pisoteada. Ditado suaíle e tailandês, que nos lembra que quando há disputa entre duas potências as vítimas são os inocentes. 


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